A descarbonização do planeta é um dos principais objetivos do mundo até 2050. E para alcançar esse objetivo, o hidrogênio verde é um potencial candidato para auxiliar nesse desafio.
A Agência Internacional de Energia (IEA) apontou que a demanda global por eletricidade aumentou 6% em 2021. E até 2040 essa demanda deve aumentar entre 25 e 30% e em uma economia dependente de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, o aumento da demanda por energia implica no aumento das emissões de carbono e no consequente agravamento das mudanças climáticas. Dessa forma, as energias renováveis ganham cada vez mais protagonismo no cenário global.
A descarbonização do planeta possibilita um mundo diferente do que estamos acostumados: mais eficiente, sustentável e movido por energias limpas. Entre estas tecnologias de energias limpas, o hidrogênio verde se notabiliza por ser uma das candidatas de grande protagonismo neste novo cenário.
O hidrogênio é um combustível universal, leve e muito reativo e sua produção se dá por meio de um processo químico denominado eletrólise. Essa técnica utiliza a corrente elétrica para quebrar a molécula de água, separando o hidrogênio do oxigênio. Se a energia elétrica utilizada na eletrólise for obtida a partir de fonte renovável, tem-se o hidrogênio verde, sem a emissão de CO2 na atmosfera. Para utilizá-lo, células combustíveis fazem o processo oposto, ou seja, o hidrogênio é misturado ao oxigênio, produzindo eletricidade e vapor d’água como único resíduo.
Entretanto, vale lembrar que existem outras maneiras de produzir hidrogênio. A maior parte do hidrogênio produzido atualmente é a partir de gás natural ou carvão, no que é chamado de hidrogênio cinza e é utilizado principalmente na indústria de amônia, para produção de fertilizantes, e refinarias de petróleo. A produção desse tipo de hidrogênio resulta em grandes emissões de CO2. Há também o hidrogênio azul, que também é obtido a partir de combustíveis fósseis, porém, neste caso, as emissões são sequestradas durante a produção.
Segundo dados da IEA, a produção de hidrogênio verde evitaria a emissão de 830 milhões de toneladas de CO2 anuais que se originam quando o gás é produzido a partir de combustíveis fósseis. Da mesma maneira, a substituição do hidrogênio cinza globalmente significaria 3.000 TWh renováveis adicionais por ano, o que é similar à demanda de energia elétrica atual na Europa.
Em um estudo publicado pela Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), foi projetado que o custo do hidrogênio verde na década de 2030 deve cair para cerca de US$ 1 a 2 US$ por quilo. Atualmente, o valor é da ordem de 6 US$ por quilo. Essa redução permitiria que o hidrogênio verde substitua o hidrogênio cinza como também os combustíveis fósseis em determinados setores da economia.
A busca por novas fontes de energia e a necessidade de descarbonização, ganhou ares de urgência na Europa devido à guerra na Ucrânia, dando início a criação de um mercado global de hidrogênio verde, que já é uma prioridade para alguma das maiores economias do mundo. Neste contexto, países que contam com uma matriz elétrica renovável já estabelecida tem uma vantagem, como é o caso do Brasil. Por isso, o país é apontado como um dos potenciais líderes globais na produção de hidrogênio verde. Assim como é considerado um país promissor para outras fontes renováveis de produção de energia.
Normalmente, o governo incentiva a adoção de novas tecnologias por meio da criação de um mercado, apoio financeiro, metas de capacidade, incentivos fiscais, entre outros. Entretanto, indústrias e fundos de capital também são fatores chave para a afirmação do hidrogênio verde no mercado.
Como exemplo, podemos citar a formação de joint ventures, diversificando o risco para grandes projetos firstofakind, além de permitir que as todas as partes envolvidas no projeto adquiram experiência ao longo do período de desenvolvimento. A recompensa pelo alto risco de ser líder nesse processo é se tornar um ator dominante no futuro mercado. A partir do desenvolvimento do mercado, a pesquisa pode transitar para ser dominada por indústrias privadas, com o objetivo de aumentar a competitividade e alcançar uma maior participação no mercado.
Neste sentido, o Brasil já conta com o esboço de hubs de hidrogênio verde com lógica semelhante à das refinarias: com compartilhamento de alguns itens de infraestrutura, como dutos e tanques para estocar o hidrogênio na forma de amônia verde, estando perto de um ponto de escoamento.
O Estado do Ceará está na vanguarda da tecnologia no Brasil, já tendo firmado cerca de 20 memorandos de entendimento com empresas que participarão de diversas etapas do processo de produção de hidrogênio. E o Porto do Pecém está desenvolvendo um modelo de negócios que permite o arrendamento de terrenos dentro de uma zona de processamento de exportações, oferecendo vantagens tributárias e a cobrança pelo fornecimento de serviços portuários. Além disso, Pecém também oferece um contato com o Porto de Roterdã, na Holanda, que está se posicionando como importante porta de entrada de hidrogênio na Europa, além de ser dono de 30% do capital do porto cearense.
No momento, a única iniciativa concreta no porto não tem o objetivo de exportar hidrogênio verde. A EDP deve colocar em funcionamento um eletrolisador até o final deste ano, com o objetivo de gerar eletricidade para alguns serviços auxiliares do porto.
Por outro lado, a Iberdrola já lidera o desenvolvimento de mais de 60 projetos em oito países, que exigem investimentos de 9 bilhões de euros até 2030, com o objetivo de desenvolver mais de 4.000 MW de eletrólise.
O Brasil tem condições de assumir um papel de destaque na produção e exportação de hidrogênio verde, já que possui as características adequadas para o desenvolvimento dessa tecnologia, além de contar com uma estrutura de energias renováveis já estabelecida. Além disso, o governo federal já vem anunciando chamadas públicas para fomentar pesquisas na área de hidrogênio verde, associada a diversas iniciativas privadas que vem investindo no país. É uma excelente oportunidade que se abre para o desenvolvimento de novos empreendimentos.