Com legislação em vigor há quase 10 anos e novas conexões sendo instaladas dia após dia, as tecnologias que envolvem a energia solar fotovoltaica têm avançado e buscado encontrar soluções para perspectivas que devem abrir novos mercados. Segundo especialistas e interlocutores do setor, algumas dessas tendências para o modelo de geração distribuída são o Mercado Livre de Energia, armazenamento em baterias e a energia por assinatura.
Segundo Cassio Maia, presidente da Associação Potiguar de Energias Renováveis (APER-RN), a geração distribuída foi uma solução “disruptiva na forma de acessar energia” e continua em constante evolução, trazendo mudanças e oportunidades para os usuários. Ele cita por exemplo os sistemas de bateria como uma das grandes tendências para os próximos anos.
“Esses sistemas podem ser utilizados tanto para garantir a segurança energética, protegendo o consumidor contra falta de energia e “apagões”, como também para substituir os caros e ambientalmente nocivos geradores a diesel”, comenta.
A tendência, no entanto, requer políticas públicas no tocante a desonerações tributárias, na avaliação de Guilherme Susteras, coordenador de geração distribuída da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR). Com as baterias sendo importadas, o Imposto sobre Produto Importado (IPI) tem uma taxação na ordem de 80%, o que atualmente inviabiliza essa dinâmica. O ideal, segundo Susteras, seria uma tributação na ordem de até 20%.
“O imposto das baterias é mais caro que o do cigarro. Precisamos de uma ação mais forte do Governo para que o imposto sobre o equipamento seja compatível com o benefício que ele traz para as pessoas. Hoje se você tem painel solar e acabar a energia da rua, você fica sem energia. Com as baterias, você terá uma autonomia maior em relação a isso”, comenta.
Ainda segundo Cassio Maia, presidente da APER-RN, no que diz respeito a modelos de negócio, o Mercado Livre de Energia e a energia por assinatura também começam a despertar interesse entre os consumidores. No caso do mercado livre, as adesões passaram a ser autorizadas desde 1º de janeiro para todos os consumidores do Grupo A, independente da demanda.
“Temos dois grandes atores no mercado ganhando cada vez mais relevância, o Mercado Livre de Energia, que é direcionado para médios e grandes consumidores, e a energia por assinatura (locação de usina). Nos dois casos os clientes podem ter uma economia de até 30% na sua conta de energia, porém sem qualquer investimento em equipamentos”, destaca.
Um exemplo é projeto da empresa de médio porte Oca do Açaí, que mesmo já tendo uma usina solar desde 2021 aderiu, em abril do ano passado, ao mercado livre de energia para otimizar seu resultado financeiro com uma solução conjunta e especializada. “Nós buscamos a redução do custo da operação. Já conseguimos uma economia mensal de 33%, em um gasto que era muito alto”, explica Isaac Fidelis, gerente administrativo da Oca do Assaí.
Ele diz que a empresa planeja aumentar a usina solar, que tem capacidade de 669,5 Kwp (kilowatt-pico); buscar equipamentos mais modernos que tragam mais eficiência com econômica de energia elétrica e novas tecnologias para os processos de fabricação.
Lorena Roosevelt, gestora do Polo de Aceleração das Energias Renováveis do RN, considera que a abertura do mercado de energia pode ser uma oportunidade para atuação conjunta com varejistas, assim como o modelo de GD (geração distribuída) Remota, que ganhou força entre 2023 e este ano. “Com a abertura de mercado para consumidores do Grupo A, a energia solar pode ser impulsionada também no modelo de geração centralizada”, afirma.
Cenário atual é mais viável e atrativo
O cenário atual para os micro e pequenos negócios que pretendem investir em energia solar é mais viável, segundo Cássio Maia, presidente da Associação Potiguar de Energias Renováveis (Aper). “O ano de 2023 foi um desafio para os agentes financeiros em virtude de algumas adaptações necessárias ao mercado, e também a elevada taxa de juros, mas hoje o cenário é bem mais atrativo. As taxas baixaram, o crédito voltou a ser acessível”, diz ele. Segundo Cassio Maia, os agentes financeiros se adaptaram às novas necessidades dos clientes, adequando prazos de financiamento e carência.
Para disseminar as linhas de crédito e a viabilidade da tecnologia fotovoltaica no Rio Grande do Norte, o Banco do Nordeste e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) tiveram papel importante. Lorena Roosevelt, gestora do Polo de Aceleração das Energias Renováveis do RN, explica que o Sebrae percebeu a intensa dinâmica existente no setor das energias renováveis e a efervescência de diferentes atores voltados para mover uma gama de ações para transformar o imenso potencial dos ventos e do sol do RN em geração de energia limpa e renovável.
“O Sebrae atua apoiando os negócios em sua constante evolução e em suas principais demandas, aproximando-as de especialistas no setor, apoiando iniciativas que ajudem empreendedores a tomarem as melhores decisões para evolução dos seus negócios, executando consultorias e capacitações em gestão, finanças, marketing, vendas, presença digital e inovação tecnológica”, comenta Lorena Roosevelt.
Segundo ela, as ações estão sendo intensificadas com a criação do Polo de Energias Renováveis no RN, localizado no Instituto Senai de Inovação. “Atendemos toda a rede do Sebrae com mentorias para funcionários e consultores, prospecção de empresas de mercado com conhecimento especializado para ampliar o nosso portfólio e a competitividade das pequenas empresas no mercado da energia”, diz a gestora.
A atuação do Sebrae, segundo Lorena Roosevelt, ocorre em duas frentes. A primeira, junto ao pequeno negócio fornecedor de bens e serviços, neste caso existe um vasto conjunto de soluções que podem ser acessadas pelo empreendedor para melhorar a gestão da empresa e o acesso à inovação tecnologia e novos mercados. A segunda, junto aos pequenos negócios potencialmente consumidores de energia solar. Nesse caso atuamos aproximando os fornecedores, realizando estudos técnicos sobre a viabilidade técnica e econômica para acessar energia solar ou para melhorar a eficiência energética.
“Quando iniciamos ainda havia alto desconhecimento dos consumidores sobre a energia solar, o mercado era bastante incipiente e o fluxo necessário para instalar uma usina ainda desconhecido, naquele momento”, explica Lorena Roosevelt. O trabalho, de início, foi reunir os principais atores do setor como a Federação das Indústrias do RN/Senai, bancos, concessionária de energia, empresas do setor e criar um plano voltado para gerar informação, desmistificar o processo, capacitar as empresas e aproximar fornecedores de compradores.
Projetos buscam fomentar pesquisas
Visando fomentar pesquisas para encontrar soluções para a área de energias renováveis, o Banco do Nordeste (BNB) selecionou 20 projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. Os recursos são da ordem de R$ 17 milhões. Os projetos devem ser executados ao longo de 12 a 36 meses.
Os recursos não-reembolsáveis fazem parte do Edital Fundeci lançados no segundo semestre de 2023. O edital é focado em projetos para as cadeias produtivas de fontes renováveis de energia, com foco especial no Hidrogênio Verde, para contribuir na transição para uma matriz energética neutra em carbono. O Rio Grande do Norte foi contemplado com dois projetos. Nove dos onze estados sob a área de atuação do BNB foram contemplados: Ceará (6 projetos), Pernambuco (4), Minas Gerais (3), Alagoas (1), Bahia (1), Espírito Santo (1), Maranhão (1) e Sergipe (1).
Entre os dois projetos do RN selecionados estão o “Desenvolvimento de célula a combustível para veículos leves utilizando hidrogênio como fonte de propulsão”, feito pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial /Centro de Tecnologia do Gás e Energias Renováveis (CTGás-ER) e UFRN e o “Método hidrotérmico escalável para síntese de nanomateriais alternativos de baixo custo para fabricação de eletrodos para geração de hidrogênio verde”, executado pela Funpec e UFRN.
Fonte: Tribuna Do Norte