Apagão: relatório do ONS mostra que eólica e solar não chegaram ao limite, diz Vestas

Interrupção do fornecimento foi causada por falha nos dados e não por limitação técnica de geração, diz Vinícius Niedzwiecki, chefe de conexão de redes da Vestas para a América Latina.

As conclusões do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) sobre as causas do apagão de 15 de agosto mostram que o Brasil ainda não atingiu o limite máximo de usinas eólicas e solares no sistema, dado que o problema que gerou o blecaute não veio de restrições técnicas na geração, afirma o chefe de conexão de redes da Vestas para a América Latina, Vinícius Niedzwiecki, em entrevista à epbr.

Segundo o executivo da Vestas, o ONS foi levado a um ponto de operação equivocado do sistema pelo fornecimento de informações imprecisas dos geradores sobre o modelo de controle de tensão das usinas.

“Houve um descasamento entre modelo e equipamento. O modelo era irreal, superestimado. Isso levou o operador a trabalhar em um ponto de operação que não era estável, quando se pensava que era”, explica.

“O consenso técnico, de acordo com a tecnologia atual, é de que o limite de penetração [de eólicas e solares no sistema] fica entre 60% e 70%. No momento do blecaute, esse cenário era de 33% no Brasil. Então estamos muito longe do limite técnico teórico”, afirma.

Combinação de fatores causou apagão
A versão final do Relatório de Análise de Perturbação (RAP) do ONS, que investigou o apagão, confirmou que o incidente começou com a queda de tensão da linha de transmissão Quixadá-Fortaleza II, da Chesf, no Ceará, seguida por uma falha de equipamentos de controle de tensão de parques eólicos e fotovoltaicos.

O desempenho do controle de tensão das usinas eólicas e solares ficou aquém do previsto em modelos matemáticos fornecidos pelos agentes e usados em simulações pelo operador. Esses modelos matemáticos são desenvolvidos na plataforma “Anatem”, o software usado na operação e planejamento do sistema elétrico no Brasil, criado pelo Cepel.

O executivo ressalta que a imprecisão nos dados das usinas não teria provocado o problema sem a falha ocorrida na linha de transmissão.

“Por ter um modelo impreciso, estávamos convivendo com o risco, mas isso só acarreta um problema de fato quando há uma ocorrência significativa no sistema. Os dois fatos juntos desencadearam o blecaute”, explica.

Modelo precisa de revisões
Para Niedzwiecki, o apagão mostrou a necessidade de amadurecimento no setor a respeito das informações que são repassadas ao ONS.

Ele ressalta, no entanto, que as fontes eólicas e solares são novas no sistema elétrico brasileiro, com crescimento sobretudo nas últimas duas décadas, e que por causa disso o ONS ainda está amadurecendo aspectos técnicos da operação para essas fontes.

Além disso, o crescimento acelerado da carga de energia em todo o mundo também está levando à necessidade de revisões de modelos de operações. O ONS já estava trabalhando em uma revisão da base de dados do Anatem antes mesmo do apagão, ressalta Niedzwiecki.

ONS pediu correções
Depois de identificar as causas do apagão, o ONS apontou centenas de correções e providências a serem tomadas por 122 agentes para evitar novos incidentes.

Para as usinas de geração solar e eólica, houve um pedido de validação contra testes dos modelos matemáticos que falharam na ocasião, com prazo até 31 de janeiro de 2024.

Segundo Niedzwiecki, a questão é de fácil solução. “Faltava um processo de verificação da qualidade dos modelos, o ONS agora está colocando isso.

Eles também estão pedindo uma nova ferramenta de simulação para os agentes, para dar ainda mais segurança de que estão trabalhando com o modelo correto”, afirma.

Redução da exportação do Nordeste
Desde agosto, o ONS limitou o intercâmbio da geração renovável do Nordeste para outras regiões do país, enquanto aplica as medidas necessárias para evitar novos problemas. Niedzwiecki explica que a medida é necessária para criar uma margem de segurança.

“Quanto mais próximo dos limites técnicos, maior a chance de que uma contingência vire um evento em cascata como um blecaute”, explica.

O executivo, no entanto, acredita que é necessária a realização de estudos mais detalhados para verificar com mais precisão até que ponto o intercâmbio precisa ser limitado.

“A questão é se essa redução é totalmente necessária, se não temos gordura para quem sabe aumentar um pouco e não penalizar tanto as eólicas”, defende.

Acionamento de térmicas no Norte
Ele aponta ainda que a redução do intercâmbio de energia entre as regiões pode levar à necessidade de maior acionamento das usinas térmicas no Norte, enquanto a região vive uma seca histórica que afeta as hidrelétricas.

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) determinou em 4 de outubro o acionamento das térmicas Termonorte I e Termonorte II, em Rondônia, sob justificativa de ampliar a garantia do suprimento de energia no estado e também no Acre.

“Na ausência da potência adicional das eólicas que normalmente estaria em operação, é necessário acionar usinas mais próximas às cargas e as térmicas fazem isso. Se estivéssemos com os limites originais de intercâmbio, com que o ONS estava trabalhando antes, a quantidade de térmicas despachadas provavelmente seria menor”, diz.

Niedzwiecki lembra também que a ampliação da transmissão entre as regiões ajudaria a evitar novos incidentes no sistema elétrico.

“Antes do blecaute as linhas de transmissão estavam muito próximas do limite. Quanto mais próximo do limite se opera, mais suscetíveis a problemas nós estamos”, afirma.

Fonte: Epbr

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