Por Bruno Catta Preta*
Você já parou para pensar que hoje o Brasil possui em abundância três das maiores riquezas da nossa civilização? Estamos falando de energia, da água e da comida. Todas diretamente relacionadas à excelente posição geográfica e ao trabalho da nossa gente.
Atualmente, o país é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e o primeiro em saldo comercial. O agronegócio no Brasil vem batendo recordes: é um dos pilares do PIB e vem desenvolvendo de maneira acelerada várias regiões do país, como que arando a terra para, em breve, nos tornarmos o maior produtor de comida do planeta.
Dos anos 1990 até hoje, a área plantada com grãos no Brasil cresceu 103%, e a produção 440%, sendo duas safras por ano, ou até três, na mesma região. Além dos grãos, o frango, por exemplo, cresceu 526% no período.
A safra deste ano deverá atingir 316 milhões de toneladas e, de acordo com o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, podemos chegar a 500 milhões de toneladas em 20 anos. Algo inimaginável se pensarmos que, há 50 anos, importávamos 30% do que era consumido.
Todo este movimento veio impulsionado pelo empreendedorismo do produtor rural brasileiro, que incorporou rapidamente a tecnologia, inclusive na produção de energia elétrica para aumentar a produtividade.
Basta rodar um pouco pelas zonas rurais para ver diversos painéis solares, que geram energia para abastecer sistemas de irrigação, estações de bombeamento para bebedouros de animais, cercas elétricas para manejo de gado, estufas para secagem de grãos, madeiras e outros alimentos, sem falar na iluminação das próprias fazendas.
O setor rural utiliza energia para quase toda sua produção. Porém, muitas vezes, como a propriedade está afastada do centro urbano, o produtor agropecuário sofre com o serviço local de distribuição de eletricidade, com quedas de corrente e oscilações que provocam defeitos nos equipamentos mais sensíveis (e às vezes nos mais caros!). Sem falar que o produtor não fica preocupado com o alto custo dos geradores a diesel.
E por falar em custos, o produtor rural já percebeu que a energia fotovoltaica apresenta grande vantagem competitiva, uma vez que a conta de luz pode ser reduzida em 90% na comparação com a comercializada pela concessionária. O retorno do investimento para instalação varia, geralmente, entre 4 e 7 anos e a vida útil do sistema é de 25 anos.
Outra vantagem da geração de energia fotovoltaica é que a ligação ajuda a estabilizar a corrente elétrica onde as propriedades são conectadas à rede da concessionária, funcionando como uma espécie de “amortecedor”, evitando assim que equipamentos de precisão sofram interferências ou que simplesmente “queimem”.
Assim como o agronegócio, a energia solar vem crescendo de forma exponencial e, no fim do ano passado, assumiu a vice-liderança na matriz energética brasileira, atrás apenas da hídrica.
Desde a implantação em janeiro do marco legal da energia solar, ou Lei 14.300, a geração distribuída acumulada saltou de 18 GW para 22,3 GW de potência instalada em junho, o que significa um aumento de 23,8% de acordo com dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). No ranking internacional, somos o 8º maior gerador de energia solar, mas com projetos já outorgados o suficiente para galgar uma colocação melhor nessa tabela logo logo.
Atualmente, apenas 14% dessa energia é produzida em áreas rurais, o que deixa claro que o setor pode produzir ainda mais, uma vez que temos potencial energético subaproveitado, com áreas ensolaradas praticamente desocupadas. Isto significa que uma janela de oportunidade está aberta para deixar os raios de sol (e os investimentos) entrarem.
Faltou falar sobre a água. O Brasil possui a maior reserva de água doce do mundo, com 12% do total disponível no planeta, de acordo com a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), reforçando que não faltam recursos naturais para continuarmos crescendo, com a energia solar impulsionando o agronegócio, para alimentarmos o mundo. Afinal, não tem nada melhor do que água fresca, mesa farta e um belo dia de sol. Carpe diem!
* Bruno Catta Preta é coordenador estadual da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e diretor de relações institucionais da Genyx