Brasil pode capturar até 200 milhões de toneladas de CO2 por ano

Relatório da CSS Brasil destacou os setores e regiões mais emissores, além daqueles com maior potencial para a captura e armazenamento de carbono.

O Brasil tem potencial de capturar quase 200 milhões de toneladas de CO2 anualmente, o que representa cerca de 12% do total de emissões de carbono no país, de acordo com um estudo divulgado pela CCS Brasil. O documento indicou que o potencial para a redução de emissões por projetos de captura e armazenamento de carbono (CCS) está relacionado, sobretudo, às atividades nos setores de energia e indústria.

Além disso, outro destaque da pesquisa para a captura de carbono é a produção de bioenergia, cuja aplicação de CCS pode levar à remoção de carbono da atmosfera. O estudo mapeou a oportunidade de captura de quase 40 milhões de toneladas aplicadas a esses processos chamados de BECCS, que une a aplicação de CCS à bioenergia.

“Todas as indústrias que utilizam combustíveis fósseis em seu processo produtivo ou que precisam de combustível de alta densidade energética possuem mais dificuldades para diminuir as suas emissões. É o caso de siderúrgicas, cimenteiras, indústrias químicas e refinarias”, explicou a engenheira e cofundadora da CCS Brasil, Nathalia Weber.

“Por isso, as tecnologias de CCS são reconhecidas como uma das principais ferramentas para descarbonização de processos industriais, principalmente quando se busca alternativas para o parque industrial existente”, destacou a especialista.

Ao todo, o setor de energia emitiu mais de 400 milhões de toneladas de CO2 em 2021 (25% do total) no país, sendo quase metade (47%) apenas na região Sudeste, de acordo com dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG).

O potencial para a captura de CO2 no setor chega a 130 milhões de toneladas por ano provenientes de combustíveis fósseis, ou seja, 32% do total de emissões nesse setor. O número ainda representa 8% do total de emissões considerando todos os segmentos. Os setores com maior adequação para implementação de projetos de CCS incluem a geração de energia, aplicações industriais e produção de combustíveis.

“Para além do potencial de descarbonização, o CCS também pode ser uma tecnologia de remoção de carbono quando atrelada à produção de bioenergia (BECCS), como para a produção de etanol, biometano e outros processos de geração de energia a partir de biomassa”, ressaltou Weber.

“O Brasil possui um dos maiores potenciais para BECCS do mundo, dada a sua tradição e participação no mercado de etanol, além do potencial ainda pouco explorado para biogás em seu território. Com isso, o Brasil também pode se tornar uma referência nas tecnologias de BECCS, além de atuar para a sua descarbonização.”

Para além de BECCS, outras possibilidades do CCS também estão representadas pela produção de hidrogênio e pela captura direta do ar com armazenamento em formações geológicas de grande profundidade.

Ainda de acordo com a pesquisa, entre as regiões brasileiras, a Sudeste é aquela com maior potencial de captura, com mais de 48% das oportunidades de captura de CO2. Apenas o estado de São Paulo possui um volume próximo a 40 milhões de toneladas de gás carbônico com potencial para CCS (20%).

Ao considerar o potencial para captura para a produção de bioenergia (BECCS), as regiões Sudeste e Centro-Oeste concentram as principais fontes de bioenergia, com 87% do volume total. Nesse sentido, o estado de São Paulo também lidera o potencial de capturar mais de 15 milhões de toneladas de CO2 por meio de BECCS. 60% desse valor é oriundo de plantas de etanol.

Potencial para armazenamento de carbono
A especialista explicou que o armazenamento geológico é a principal tecnologia de destinação do CO2 capturado para a implementação de projetos de CCS em larga escala, que ocorre por meio de processos que consistem em injeção e estocagem de CO2 de forma segura e permanente em formações geológicas adequadas.

Entre as áreas com características geológicas favoráveis se destacam as bacias sedimentares além de reservatórios depletados de óleo e gás e porções de aquíferos impróprios para qualquer tipo de consumo ou aproveitamento humano ou animal, chamados de aquíferos salinos.

Segundo a cofundadora da CCS Brasil, outros contextos como basaltos, camadas de carvão não mineráveis e camadas de sal também podem ser utilizados. Dessa forma o relatório pontuou que entre as principais áreas de interesse no Brasil estão as Bacias Sedimentares de Santos, Campos, Potiguar, Recôncavo, Amazonas-Solimões e Paraná.

A Bacia de Parecis foi incluída nas áreas de interesse devido ao anúncio de projeto de CCS em estudo na região. Nathália ainda explica que são necessárias mais pesquisas e campanhas para a identificação de novas áreas com potencial de armazenamento de CO2 no país.

Por fim, outro ponto de importância destacado no documento é em relação à logística e ao transporte do CO2. “É preciso haver compatibilidade entre a fonte de emissão de CO2 e o local de armazenamento, principalmente quanto às opções de transporte de CO2 e as distâncias. Ao garantir esse equilíbrio, é possível maximizar a eficiência do projeto e otimizar os recursos utilizados”, afirmou.

Com isso, a especialista explicou que entre as possibilidades de modais disponíveis estão gasodutos, caminhões, trens e navios, e a decisão de qual deles empregar deve considerar as características físicas e econômicas da região e conceito de cada projeto.

Fonte: Portal Solar

Mais Lidas