No cenário global de busca por alternativas sustentáveis de energia, o hidrogênio verde emerge como um dos temas mais promissores. Em um artigo publicado pelo professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ricardo Rüther, no The Conversation, destaca-se que o Brasil está entre os países mais propícios a liderar a produção dessa fonte energética alternativa, abundante, econômica e potencialmente eficiente. Chile e Argentina também podem vir a oferecer preços competitivos.
Mas afinal, o que é o hidrogênio verde e por que o Brasil é tão favorecido nesse contexto? O hidrogênio (H2) é um gás leve, incolor e altamente inflamável, conhecido por ser o elemento mais abundante no universo, embora na Terra esteja predominantemente combinado com o oxigênio na forma de água (H2O). O hidrogênio possui conteúdo energético três vezes maior que a gasolina e, ao ser queimado, produz energia e água como únicos subprodutos, tornando-se uma fonte de energia limpa.
No entanto, para ser utilizado como combustível, o hidrogênio precisa ser separado de outros elementos, um processo intensivo em energia que recebe diferentes denominações conforme a sua origem. O hidrogênio “cinza”, por exemplo, é produzido a partir de hidrocarbonetos ou eletrólise da água usando energia elétrica de fontes fósseis, como termelétricas a carvão ou gás natural. Todas as demais cores que tentam valorizar esse tipo de energia precisam ser consideradas cinza, porque também envolvem queima de combustíveis fósseis. Já o “verde” é produzido através da eletrólise da água utilizando fontes renováveis, como energia solar ou eólica.
A transição para o hidrogênio verde é crucial para mitigar as emissões de gases de efeito estufa. Atualmente, a grande maioria do hidrogênio utilizado é cinza, produzido a partir de fontes não renováveis, enquanto menos de 0,1% é proveniente da eletrólise da água. No entanto, com a redução dos custos das tecnologias renováveis, a produção de hidrogênio verde torna-se cada vez mais viável.
Embora conhecidas há muitos anos, por razões de custo, essas tecnologias ainda não permitem a utilização em larga escala. A urgência de reduzir a emissão dos gases de efeito estufa, no entanto, tornam o hidrogênio uma decisiva fonte de energia para a transição energética sustentável. A mudança tem ocorrido com a redução acentuada dos custos das tecnologias solar fotovoltaica e eólica, que geram hidrogênio verde e seus derivados – como amônia (NH3), combustíveis sintéticos, fertilizantes verdes, etc, que favorecem a circulação limpa de navios e aviões.
O Brasil, com seu potencial de geração elétrica solar e eólica, além da abundância de água, surge como um candidato privilegiado na produção de hidrogênio verde. Estudos apontam que até 2050, o Brasil poderá produzir hidrogênio verde a metade do custo do hidrogênio cinza atualmente produzido. Essa produção mais barata poderia impulsionar uma série de aplicações, desde a propulsão de navios até o fornecimento de energia para a aviação comercial, contribuindo significativamente para a economia do país e para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Instituições como o Laboratório de Energia Solar Fotovoltaica da UFSC já estão trabalhando no desenvolvimento de tecnologias para produção de hidrogênio verde a partir de fontes renováveis, demonstrando o potencial brasileiro nesse campo.
O hidrogênio verde, portanto, não só representa uma alternativa promissora para a transição energética global, mas também oferece ao Brasil uma oportunidade única de liderança e desenvolvimento sustentável em um setor-chave para o futuro da energia.
Fonte: Vermelho