Cearenses aumentam consumo de energia com instalação de painéis solares e reduzem contas em até 85%

Redução nas tarifas de eletricidade proporcionam que mais eletrodomésticos sejam ligados, sobretudo em busca de conforto térmico

A rotina do advogado Roberto Menescal quando o assunto era energia envolvia altas cifras. Antes, ele pagava, em média, R$ 650 por mês de conta de luz, tendo que restringir o uso de aparelhos como ar-condicionado e chuveiro elétrico. Tal situação foi alterada em outubro de 2023, quando ele decidiu instalar painéis solares em casa.

“A gente viu nos últimos anos um grande impacto das contas de energia no orçamento familiar. Muitas vezes a gente tendo que fazer um corte até nos aparelhos que a gente usava como chuveiro elétrico e principalmente ar condicionado. Com um projeto bem feito, considerando a média do consumo, hoje não tenho mais problemas com energia”, afirma.

Seis meses depois, a situação do advogado quando o assunto é conta de energia é completamente diferente. Segundo Roberto Menescal, após instalar os painéis solares e aumentar o consumo da família, colocando mais ares-condicionados e retomando o uso do chuveiro elétrico, a tarifa elétrica agora é de R$ 95 em média por mês, 85% mais barata do que o débito anterior.

TENDÊNCIA OBSERVADA
O exemplo de Roberto Menescal ilustra bem a atual percepção de que os painéis solares se multiplicam nos telhados das residências do Ceará. Sejam casas de alto padrão ou de valor mais econômico, a procura de mercado pelos equipamentos fotovoltaicos não está apenas relacionada à economia nas contas de energia, mas também no aumento do consumo sem pressionar o orçamento.

Em um contexto de um estado marcado pelas as altas temperaturas como o Ceará, instalar painéis solares pode ser uma opção plausível, principalmente no atual momento em que equipamentos com os preços mais baixos da série histórica.

Para o diretor técnico do Sindienergia-CE, Danilo Queiroz, o conforto térmico das famílias cearenses é a prioridade na instalação dos painéis solares, bem como a utilização de outros eletrodomésticos, como máquina de lavar e utensílios de cozinha.

“O perfil de quem procura produzir hoje a própria energia tem inicialmente um apelo forte na redução do custo, mas junto vem também vários outros pontos, como o aumento maior de consumo para ter um conforto térmico maior, principalmente nos períodos de maior calor. Já é feito um dimensionamento de acordo com a pretensão futura de geração de energia, como consumir mais ar condicionado. O conforto não só térmico, mas de outras utilidades do dia a dia para ter dinamismo”, observa.

A afirmação é corroborada por José Ronaldo Souza, professor de Economia do Ibmec Rio de Janeiro, principalmente pelas altas temperaturas que ocorrem na região Nordeste do País, o que por um lado é benéfico pela maior incidência de Sol durante o ano.

“O Nordeste tem muito calor, também gera mais energia solar porque tem mais tempo de Sol. É adequado porque você vai melhorar o conforto das pessoas que moram em lugares que são muito quentes e sem gerar problemas em termos de sustentabilidade, porque você vai gerar com energia renovável”, aponta.

PARA ALÉM DA REDUÇÃO NA CONTA
Empresas do ramo já observaram que a mudança de percepção do público indica que “energia solar vai muito além do que economia na conta”, como explica Mário Viana, diretor comercial e de marketing da Sou Energy.

“Comprar um aparelho de ar condicionado é viável, o difícil é mantê-lo funcionando oito horas por dia todos os dias porque a energia é muito cara. Mas a partir do momento que uma família gera a sua própria energia, é como se a energia fosse de graça, e a partir disso, quais os ambientes da minha casa posso climatizar?”, discorre.

A instalação de painéis solares por famílias cearenses vai muito além da climatização de ambientes, como frisa Mário Viana. Com a economia gerada, pode-se aumentar o consumo com itens considerados acessórios, além de investir em outros produtos, como fogões elétricos, que dispensam o uso do botijão de gás ou gás encanado, fornecendo uma nova redução no bolso do consumidor.

“Indo além de climatização, vamos supor que a pessoa que era um chuveiro elétrico, ela pode bancar um chuveiro elétrico funcionando, ou colocar uma cervejeira, ou adega, ou mesmo passar a cozinhar com a própria energia que ela produz por um cooktop e deixar de comprar também o gás de cozinha, fazendo mais essa economia que está além da conta de energia”, aponta.

Mário Viana ainda traça um exemplo em uma família que consome cerca de 500 kWh (quilowatts-hora) e instala painéis solares em casa. Diferentemente do esperado, a procura dos consumidores não é por geradores que supram somente a quantidade consumida em média, mas sim que superem esse número.

“Vamos supor que uma família tenha um gasto médio de 500 kWh por mês. Na hora em que ela vai buscar um gerador de energia, se ela está querendo ampliar o conforto, não pode comprar um gerador para 500 kWh. Ela busca um gerador de 1000 kWh, 1500 kWh para aumentar o conforto que ela quer ter. Está cada vez mais comum buscar geradores com capacidade de geração muito superior ao histórico médio das famílias”, destaca.

SUSTENTABILIDADE ALIADA À ECONOMIA

O uso de uma fonte renovável e com mínimo impacto ambiental, como o Sol, bem como a acessibilidade do preço dos painéis solares e o rápido retorno do investimento, explicam a adoção dos equipamentos fotovoltaicos em busca de economia sustentável.

“A melhora da tecnologia com o aumento da capacidade de geração com a mesma placa, e agora tem um custo menor, obviamente que aumenta a viabilidade econômica da instalação de uma placa solar e isso obviamente estimula bastante a instalação, o que também é bastante positivo. A sustentabilidade pode ser considerada pelos consumidores”, reflete José Ronaldo Souza.

Além da redução nas contas de energia, a substituição de outros componentes do dia a dia dos consumidores, movidas por combustíveis fósseis por outros abastecidos como eletricidade, como carros, também aumenta o consumo e auxilia na transição para componentes mais sustentáveis.

“A questão da mobilidade elétrica aqui no Nordeste, principalmente no Ceará, é que muitas pessoas estão passando a substituir o seu carro de motor à combustão por veículos elétricos, gerando também um consumo maior de energia”, diz Danilo Queiroz.

Fonte: Diário Do Nordeste

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