Como a região que mais produz carvão na China vai migrar para energias renováveis

Mongólia Interior quer que sua capacidade de produzir energia solar e eólica supere a do carvão até 2025.

A China deve duplicar a sua capacidade de produção de energia eólica e solar, atingindo 1.200 gigawatts (GW) em 2025. A informação é da organização estadunidense Monitor da Energia Global, que publicou estudo sobre o tema no final de junho.

Se isso acontecer o país vai alcançar sua meta com cinco anos de antecedência. No final de 2020, o presidente chinês Xi Jinping havia anunciado o cumprimento desse objetivo até 2030.

O carvão é fonte de 60% da energia consumida no país, e isso em parte faz com que o setor energético seja responsável por 90% das emissões de gases de efeito estufa na China. A Mongólia Interior é uma das regiões que mais produz esse combustível no país.

Mas esse cenário deve mudar nos próximos anos. De acordo com o plano de ação do governo local apresentado no final do ano passado, até 2025, a capacidade instalada de geração de energia renovável na Mongólia Interior deve ultrapassar a de carvão e para o final da década, essa capacidade deverá atingir 200 milhões de quilowatts ou 200 GW. Essa cifra atualmente é de 70 gigawatts.

A usina solar de Junma, que fica no deserto de Kubuqi na cidade de Ordos, conta com mais de 196 mil painéis solares, e é um exemplo do ambicioso processo de transição energética no país.

Até 2018, a capacidade instalada de energias renováveis em Ordos era inferior a um milhão de quilowatts, segundo Chen Chao, diretor do Departamento de Planejamento e Desenvolvimento da Empresa de Abastecimento de Energia de Ordos.

“Desde 2021, o país propôs as metas duplas de carbono, o que significa atingir o pico de emissões de carbono até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono – quando se produz a mesma quantidade de CO2 na atmosfera que aquela que se tira – até 2060.

Após a definição dessa meta, a indústria de energias renováveis da China tem se desenvolvido rapidamente. Atualmente, Ordos concluiu projetos de 7,6 milhões de quilowatts de energias renováveis e, com os projetos aprovados mas ainda não construídos, a capacidade total ultrapassa 50 milhões de quilowatts, o que é mais de 50 vezes a capacidade antes de 2018″, explica o dirigente.

O potencial eólico da Mongólia Interior representa quase 57% dos recursos totais desse tipo de energia da China. A região também possui 21% dos recursos de energia solar de todo o país.

A usina de Junma também foi pensada como um projeto de combate à desertificação. Os painéis fotovoltaicos foram colocados em suportes que permitem o crescimento da vegetação e inclusive o cultivo de alimentos.

“Os painéis fotovoltaicos foram instalados em terras que não eram utilizadas, onde não podíamos desenvolver indústrias. Após a instalação da usina solar, a terra começou a melhorar gradualmente, e a partir daí conseguimos nos dedicar à agricultura e à pecuária na área”, conta Chen Chao.

O Kubuqi é o sétimo maior deserto da China e era conhecido como o “Mar da Morte”. Suas tempestades de areia afetavam significativamente a qualidade do ar na região na década de 1990. Os diversos projetos de restauração e combate à desertificação nesse deserto ganharam reconhecimento de agências das Nações Unidas.

Integração de cadeias e o desafio do armazenamento

Um dos modelos que a China vêm desenvolvendo é o de atrair indústrias para regiões com potencial de exploração de energias renováveis, como é o caso do Parque Industrial de Emissão Zero de Ordos. O plano é integrar as cadeias de suprimentos de diversas indústrias, como a fabricação de veículos elétricos e baterias.

Em 2021, a Região Autônoma da Mongólia Interior aprovou a construção de dois parques industriais chamados de emissão zero: o Parque Industrial de Emissão Zero de Ordos, e o Parque Industrial de Emissão Zero da Bandeira Unida de Darhan Muminggan, em Baotou.

Um dos objetivos do Parque Industrial de Emissão Zero de Ordos é criar uma plataforma com 52 empresas cuja receita anual de atividades-fim supera os 20 milhões de yuans (cerca de R$ 13,3 milhões) que têm o hidrogênio como fonte de energia. Os setores industriais dessas empresas são: eólico, solar, de hidrogênio, de armazenamento e de veículos elétricos.

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No primeiro semestre deste ano, a capacidade instalada de energia renovável na China chegou a 1.320 gigawatts, isso representa quase metade da capacidade instalada total de energia do país, que agora é de 2.710 gigawatts.

A capacidade instalada é a quantidade máxima de eletricidade que pode ser produzida. Já a geração é o que realmente é produzido em energia em um determinado período.

Um dos desafios que a transição para energias renováveis apresenta é o armazenamento. Tanto a geração de energia eólica como a solar têm períodos de escassez. À medida em que aumenta a participação dessas formas de gerar energia, torna-se fundamental desenvolver soluções que permitam armazenar o excedente de energia produzido nos períodos com mais sol ou vento.

Xu Jiangang, vice-diretor do Comitê de Gestão da Zona de Desenvolvimento Econômico de Mengsu afirma o parque de Ordos possui vários projetos nesse sentido: “A capacidade de armazenamento de energia da Envision é de 1,5 GW, e um outro projeto de armazenamento de 20 GW está em andamento, assim como a Baofeng Energy lançará outro de 50 GW; o parque também lançará projetos de armazenamento de íons de sódio, e armazenamento por gravidade”.

Segundo Jiangang, até o final do período do 14º Plano Quinquenal, 2025, o parque tem como meta alcançar 100 GW de capacidade de armazenamento de energia eólica e 100 GW de capacidade fotovoltaica.

Fonte: Brasil de fato

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