Entrevista EXCLUSIVA com Bruno Herbert, presidente da ABESCO

Conheça um pouco mais sobre eficiência energética e o sistema de refrigeração desenvolvido especialmente para esta edição da Copa do Mundo, no Catar.

Bruno Herbert é o atual diretor presidente da Globalsun, empresa de soluções em energia solar, e já era conselheiro da ABESCO. Também atua no cargo de diretor presidente do Grupo Publikimagem, desde 2003, e da Revert Brasil, empresa de soluções ambientais e de manufatura reversa, desde 2009.

Nesta entrevista, Bruno comenta sobre alguns aspectos importantes sobre o sistema de refrigeração desenvolvido especialmente para a Copa do Mundo de Futebol, que está ocorrendo no Catar.

1.Como é o funcionamento do sistema de ar-condicionado desenvolvido para uso nos estádios da Copa do Mundo do Catar? Qual as principais diferenças para os sistemas convencionais de refrigeração?

ABESCO: O sistema de refrigeração dos estádios da Copa do Catar foram desenvolvidos de forma a criar bolsões de ar frio apenas nas áreas onde ficam os torcedores, jornalistas e jogadores. O ar frio não é lançado diretamente nas pessoas, mas no ambiente de forma suave. Nestes ambientes o ar chega a 13°C.

2.Como a arquitetura e design de cada um dos estádios influencia no sistema de ar-condicionado?

ABESCO: A arquitetura e o design são pensados de forma a reduzir os espaços não utilizáveis e a evitar a entrada de ar quente do exterior.

3.Como o sistema consegue ser até 40% mais eficiente que os sistemas de refrigeração convencionais?

ABESCO: Existe a reutilização do próprio ar frio num processo de recirculação e o menor espaço em que este ar frio precisa ser utilizado. Porém, o mais importante é o sistema de controle que busca manter uma temperatura constante por volta de 26°C

4.Em quais outros ambientes essa tecnologia poderia ser utilizada?

ABESCO: Em espaços abertos com grande circulação de pessoas, em casas de shows.

5.Qual a importância da inovação para a difundir a eficiência energética?

ABESCO: O conceito simples da eficiência energética é realizar o mesmo objetivo com a utilização de menos energia. Neste caso, o objetivo era o conforto térmico dos ocupantes do estádio. Portanto, pensar diferente e buscar novas tecnologias é essencial para se buscar eficiência na utilização da energia.

6.Quais os benefícios associados ao uso racional da energia?

ABESCO: Existe, em primeiro lugar, uma componente estratégica para uma nação ter um uso racional da energia, pois sua dependência de outros países diminui ou até se torna inexistente, como é o caso do Brasil. E, também, ficamos menos dependentes de fatores alheios ao nosso controle, como é o caso da falta de chuva nos reservatórios das hidroelétricas.
Após este primeiro fator temos as questões ambientais e financeiras.

No Brasil, quando temos escassez hídrica temos de recorrer a energia termoelétrica a base de combustível fóssil. Além de cara, emite milhões de toneladas de CO2 na atmosfera.
Indo na contramão do protocolo de Montreal, que teve o objetivo de mitigar os gases nocivos à camada de ozônio.

7.Como incentivar pessoas e empresas a adotarem um uso mais racional de energia?

ABESCO: No caso das pessoas é muito simples. É bom para o bolso e garante que a próxima geração ainda tenha um planeta para morar.

No caso das empresas, elas precisam entender que os consumidores estão buscando produtos e serviços de empresas com uma preocupação na agenda ESG (Enviroment,Social,Governance).

8.Quais as principais dificuldades/desafios encontrados para a adoção da eficiência energética em empresas e residências?

ABESCO: Os desafios passam pelo desconhecimento, massificação das informações em todas as camadas da população e também por falta de políticas públicas nas outras esferas do poder além da federal.

9.Qual recado você gostaria de deixar para nossos leitores?

ABESCO: Como cidadão, para se fazer eficiência energética, não é necessário ciência de foguete. É necessário ficar atento ao selo PROCEL que vem nos equipamentos eletroeletrônicos, eletrodomésticos, lâmpadas e, de uma forma geral, você já estará em um bom caminho. Depois será essencial refletir sobre a real necessidade da utilização daquele recurso (equipamentos, lâmpadas, temperatura do sistema de refrigeração,etc.) e, por fim, buscar novas tecnologias para reduzir o consumo, a exemplo do Catar. Todavia, o mais importante é debater na sociedade a importância de uma política de Estado que evite o desperdício e que incentive a eficiência energética como forma de garantir saúde financeira às famílias, empresas e de proteção ao meio ambiente.

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