Transição energética: caminho para uma economia de baixo carbono

A transição energética - substituição das fontes de energia convencionais por fontes renováveis - é urgente e tem sido pauta de discussões no mundo inteiro enquanto alternativa que contribui para a redução das emissões de Gases de efeito estufa (GEE) na matriz energética.

Diante dos impactos das mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global, muitos países estão se dedicando a encontrar soluções para reduzir rapidamente e de maneira abrangente suas emissões de gases de efeito estufa (GEE), visando limitar o aumento da temperatura a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, conforme estabelecido no Acordo de Paris. Esse esforço envolve um processo de transição energética centrado na descarbonização, considerando a necessidade de não prejudicar os países mais pobres e as comunidades mais vulneráveis, dadas as dependências das principais economias mundiais nos combustíveis fósseis.

A civilização humana vem passando por períodos de transição energética desde seus primórdios, quando passou a utilizar a força animal no lugar da humana e assim posteriormente. Na Figura 1 podemos acompanhar a evolução da transição energética.

Figura 1 - Evolução da transição energética ao longo do tempo

O Brasil atualmente é quinto maior emissor mundial de GEE, precedido por China, EUA, Índia e Rússia. Entretanto, o padrão de emissões difere significativamente da média global. Enquanto as emissões brasileiras decorrem principalmente de mudanças no uso da terra e desmatamento (50%) e da agropecuária (24%), na média dos países do G20 cerca de 70% das emissões estão relacionadas ao setor de energia.

Como vimos em nosso post sobre a matriz energética brasileira, 48% da energia utilizada no país tem origem renovável enquanto que no mundo este percentual é de 15%. Apesar da participação das renováveis ser grande na matriz, ainda existe um grande potencial solar e eólico que podem ser aproveitados para contribuir com o aumento da participação das fontes renováveis na matriz energética brasileira.

A transição energética é um conjunto de políticas fundamentais para o setor energético e para o desenvolvimento socioeconômico do país e tem como grande desafio a conciliação de geração de emprego, renda, inclusão social, combate às desigualdades, melhoria da qualidade de vida, reindustrialização, preservação da biodiversidade e da qualidade ambiental, entre outros. A atual transição energética se caracteriza pelos 3 Ds: Descarbonização, Descentralização e Digitalização.

  • Descarbonização: refere-se à redução das emissões de carbono na produção e consumo de energia. Geralmente envolvendo a substituição de combustíveis fósseis por fontes de energia renovável, como energia solar, eólica e hidrelétrica, que não produzem carbono durante a geração de eletricidade.

 

  • Descentralização: Este termo descreve o movimento em direção a uma infraestrutura energética mais distribuída, onde a geração de energia não é centralizada em algumas grandes usinas, mas é mais dispersa e localizada, muitas vezes envolvendo sistemas de geração de energia em pequena escala, como sistemas solares em telhados ou turbinas eólicas individuais.

 

  • Digitalização: Refere-se à integração de tecnologia digital na gestão e distribuição de energia. Isso pode incluir a implementação de redes inteligentes (smart grids) que monitoram e controlam o fluxo de energia de maneira mais eficiente, o uso de medidores inteligentes para monitorar o consumo de energia em tempo real e o desenvolvimento de sistemas de armazenamento de energia avançados. A digitalização também pode facilitar a coordenação entre diferentes fontes de energia e consumidores, permitindo uma integração mais suave de fontes de energia intermitentes, como solar e eólica, na rede elétrica.

 

No Brasil, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) provenientes do setor energético não ocupam o papel principal. Além disso, tanto nossa matriz energética quanto a elétrica possuem uma proporção maior de fontes renováveis e de zero carbono em comparação com as médias globais. Para manter essa alta proporção de fontes renováveis na matriz elétrica do país, as contribuições das fontes eólica e solar têm crescido na geração de eletricidade. No entanto, devido à variabilidade na disponibilidade de vento e sol, a produção de eletricidade dessas fontes também varia. Consequentemente, as usinas termelétricas ainda desempenham um papel importante na garantia da estabilidade do sistema elétrico, pois podem ser acionadas de forma rápida e imediata.

Nesse contexto, o gás natural tem ganhado destaque como combustível para as termelétricas. Apesar de ser um combustível fóssil, sua queima emite menos GEE do que a queima de óleo e carvão, tornando-o um combustível de transição energética. Contudo, com a crescente adoção do biometano e do hidrogênio, há a possibilidade de substituir o gás natural por esses combustíveis renováveis, promovendo uma trajetória progressiva rumo à sustentabilidade ao longo do tempo.

Um dos maiores desafios enfrentados está no setor de transportes, que ainda depende principalmente de combustíveis fósseis. Para reduzir as emissões de GEE desse setor no Brasil, uma das estratégias é promover o uso de biocombustíveis. Além disso, estão em discussão iniciativas como os veículos elétricos, em especial o transporte público, que não emitem GEE durante seu funcionamento. Também está sendo desenvolvido o programa Combustível do Futuro, que propõe medidas para aumentar a utilização de combustíveis sustentáveis e de baixa emissão de carbono. Além disso, nos últimos anos têm sido registrados avanços significativos em eficiência energética nos setores que mais consomem energia, como transporte e indústria.

No caso do hidrogênio de baixo carbono, especialmente, a matriz elétrica brasileira garante uma posição privilegiada, viabilizando a produção competitiva a partir de diversas fontes, como eólica ou solar (hidrogênio verde) e gás natural (hidrogênio azul e o chamado hidrogênio turquesa). O desenvolvimento desse mercado pode contribuir ainda para a atração de investimentos para cadeias produtivas estratégicas, a exemplo de fertilizantes, siderurgia e química verdes.

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